terça-feira, janeiro 10, 2006

Por favor nao deixem a borbulha chegar a ferida!


Apesar de ja nao ter paxorra rigorozamente nenhuma para o Sr. Nuno Markl, hoje, recebebi um mail que merece ser reencaminhado para aqui.
Trata-se de uma espantosa graçola a uma coluna da recem chegada a estas andanças de cronista, Pimpinha Jardim, so peço desculpa pela eventual extenção do post, mas por favor leiam ate ao fim porque vale a pena...

No passado fim-de-semana, o semanário português O INDEPENDENTE publicou, discretamente, no seu suplemento VIDA, uma coluna de opinião da autoria de Catarina Jardim. Quem é Catarina Jardim? Nada mais,nada menos do que a popular Pimpinha Jardim.
Voltemos então a Catarina Jardim e à sua coluna no jornal. O título do artigo é TODOS A BORDO, e trata-se- como o nome indica - de um relato detalhado sobre um cruzeiro a África que a jovem fez.
Ela diz, no início "O cruzeiro a África foi uma loucura, pode mesmo dizer-se que foi o cruzeiro dasfestas - como alguns dos convidados chamavam ao navio em que Luís Evaristo nos presenteou com MAIS UM BeOne on Board".
Gosto da maneira como ela fala, sem explicações nem perdas de tempo, de pessoas e iniciativas sobre as quais boa parte dos leitores não faz a mínima ideia quem sejam ou no que consistem. Nada contra - isto faz com que qualquer leitor se sinta cúmplice e rapidamente imerso no universo Pimpinha. Adiante.
Ficamos a saber que ela esteve em Tânger, e que a experiência foi, possivelmente a mais marcante da vida desta jovem. Passo a ler o que ela escreve:"Tânger é bastante feia, muito suja e as pessoas têmum aspecto assustador."
Nunca fui a Tânger, mas já fui a sítios parecidos esubscrevo inteiramente as palavras de Pimpinha. Malditas pessoas pobres, que só estragam o nosso planeta com a sua sujidade e o seu ar assustador! É preciso ser-se mesmo ruim para se escolher ser pobre, quando se pode ser tão limpo e bonito. Quando se pode ser, em suma, rico.
Eu penso que a Pimpinha acertou em cheio na raiz detodos os problemas mundiais da pobreza. Andam entidades a partir a cabeça em todo o mundo a pensar nisto, andou a Princesa Diana a gastar tantas solas desapatos caros a visitar hospitais, capaz de apanhar uma doença, quando nós temos a Pimpinha com a solução. Se calhar basta lavar estas pessoas, e talvez -acompanhem-me neste raciocínio; Pimpinha vai ficar orgulhosa de mim - se calhar basta lavar estas pessoas, e em vez de gastar rios de dinheiro a mandar comida para África, porque não os Médicos Sem Fronteiras passarem a andar munidos de botox. Botox!Reparem: não é fazer cirurgias plásticas a toda esta gente feia que vive nestes países, porque isso seria demais. Mas, que diabo - botox? Vão-me dizer que não é possível ir de vez em quando a estes sítios e dar botox a estas pobres almas? Como o mundo ficaria mais bonito.Adiante.
Pimpinha desabafa, dizendo, sobre as pessoasde Marrocos, "apesar de já ter viajado muito, nunca tinha visto uma cultura assim - e sendo eu loura, não me senti nada segura ou confortável na cidade".
Talvez. Mas vamos supor que trocavam Pimpinha por, vamos supor, 10 mil camelos. Era um bom negócio para o Independente. Dos 10 mil, escolhia, vamos lá, 2 para passar a escrever a coluna - o que poderia trazer melhorias significativas de qualidade - e ainda ficavacom 9 mil 998. O que, tendo em conta que Portugal está a ficar um deserto, pode vir a revelar-se um investimento de futuro.
Pimpinha prossegue: "Já em segurança, animou-me afesta marroquina, com toda a gente trajada a rigor". Suponho que, para a Pimpinha Jardim, "uma festa marroquina com toda a gente trajada a rigor", tenha sido assim tipo uma festa de Halloween, tendo em conta que os marroquinos são - como a colunista diz umas linhas acima - gente feia como nunca se viu.Adiante.
Ela diz: "A seguir ao jantar, mais um festão que voltou a acabar de madrugada". Calma -esclareçam-me só neste aspecto, para eu não me perder. Portanto, houve uma festa, não é? E a seguir, outra festa. OK. Uma pessoa corre o risco de se perder nestes cruzeiros, com toda esta variedade de coisas que acontecem.
Diz Pimpinha: "Desta vez não deu mesmo para dormir jáque fomos expulsos dos camarotes às 9 da manhã, parasó conseguirmos sair do navio lá para as 14 horas.Tudo porque um marroquino se infiltrara no barco e passara uma noite em grande, uma quebra inadmissível na segurança".
Ora bom. Ora bom, ora bom, ora bom, ora bom. Portanto, aqui a questão é: viagens a Marrocos efestas com pessoas vestidas de marroquinos, tudo bem. Agora, se pudessem NÃO ESTAR LÁ os marroquinos, isso éque era jeitoso. Malditos marroquinos, sempre com a mania de estarem em Marrocos. E como é que acontece esta quebra de segurança? Eu compreendo o drama de Pimpinha. É que o facto da segurança deixar entrar um estafermo marroquino vestido de marroquino, numa festacom gente bonita vestida de marroquina, isso só vemprovar que, se calhar, os amigos da Pimpinha não são assim tão mais bonitos do que essa gente feia de Marrocos. E isso é coisa para deixar uma pessoa deprimida. Temos nós a nossa visão do mundo tão certinha e de repente aparece um marroquino e uma brecha na segurança... Enfim - nada que uma ida às compras não resolva, ao chegar a Lisboa, certo, Pimpinha? Adiante.
Diz Pimpinha: "Já cá fora esperava-nos umgrupo de policias com cães, para se certificarem deque ninguém vinha carregado de mercadorias ilegais - enão sei como é que, depois de tantos avisos daorganização, ainda houve quem fosse apanhado com drogana mala!"
DROGA? NUMA FESTA DO JET SET PORTUGUÊS? NÃO! COMO?NÃO. Recuso-me a acreditar. Deve ter sido confusão, Pimpinha. Era oregãos. Era especiarias.
Pimpinha Jardim declara: "Mas o saldo foi bastantepositivo. Aliás, devia haver mais gente a arriscarfazer eventos como estes".
Gosto desta Pimpinha interventiva. Sim senhor, digatudo o que tem a dizer. Faça estremecer o mundo. E com assuntos que valham a pena. Aliás, era capaz de ser uma boa ideia escrever um e-mail ao Bob Geldof atentar fazê-lo ver que essa história de organizar concertos para combater a pobreza em África... Para quê? Geldof devia começar era a organizar concertos para chamar a atenção do mundo para a falta de cruzeiros com festas. Isso é que era. Mania dasprioridades trocadas. Que maçada.
Mesmo no final, a colunista remata dizendo: "Devia haver mais gente a arriscar fazer eventos como estes -já estamos todos fartos dos lançamentos, "cocktails" efestas em terra".
Aprecio aqui duas coisas: a utilização do "já estamos todos", como se Pimpinha voltasse a acolher o leitorno seu regaço como que dizendo: "Sim, tu és dos meus e também estás farto de lançamentos, 'cocktails' efestas em terra. Excepto se fores marroquino, leitor.Se for esse o caso, por favor, exclui-te deste 'todos' ou então vai tomar banho antes, e logo se vê".
Depois, é refrescante saber que Pimpinha está farta de lançamentos, 'cocktails' e festas. Eu julgava quenos últimos dias a tinha visto em cerca de 250 revistas em lançamentos, 'cocktails' e festas, masdevia ser outra pessoa. Só pode ser. Confusões minhas.
Em suma: finalmente, há outra vez uma razão para ler O INDEPENDENTE todas as semanas. Tardou, mas não falhou. Pimpinha Jardim é a melhor aquisição que um jornal já fez em toda a História da Imprensa mundial.
Nuno Markl

1 Comments:

Blogger Marvin said...

Eu ouvi esta bela dissertação em directo na antena 3 pelo senhor Markl!!!
Uma verdadeira pérola!

terça-feira, 10 janeiro, 2006  

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